Moradores do bairro Navegantes viram atores de documentário em combate às drogas
Gustavo é um adolescente de 16 anos acorrentado às drogas. O vício causa tantos problemas à família que ele chega ao ponto de cometer suicídio. Essa história não é roteiro de cinema, mas foi bem aceita ao virar um filme amador em Laguna, no sul do Estado.
Todos os participantes de Acorrentado, são moradores do Bairro Navegantes, onde foram gravadas a maioria das cenas do trabalho, que tem por objetivo conscientizar a população para os problemas das drogas.
A produção começou a ser feita em 2007 pelo comerciante Manoel de Oliveira Filho, de 42 anos, e concluída há dois meses. O material demorou a ficar pronto porque as cenas eram gravadas nos finais de semana ou, então, quando os atores da comunidade tinham algum tempo livre. Além disso, durante cinco meses não puderam utilizar a câmera por problemas técnicos.
A ideia de Acorrentado é mostrar a dura realidade do uso de drogas no bairro para que as famílias fiquem sensibilizadas e consigam encontrar maneiras de evitar ou se livrar do problema. No total foram 41 atores, um deles ex-viciado. Para garantir lugar no elenco era necessário ter apenas boa vontade, uma certa desenvoltura diante da câmera e, principalmente, não usar drogas.
Tivemos um rapaz que teve uma recaída e voltou ao vício. Ele foi convidado a deixar o filme conta.
Manoel de Oliveira é o diretor, cinegrafista e também roteirista, mas nunca utilizou um roteiro no papel: as cenas e os diálogos eram gravados na base do improviso. Ele passava a ideia central aos atores tinha liberdade para criar.
Como não são profissionais teriam que decorar o texto e perderiam a naturalidade diante da câmera explica o comerciante, que já havia produzido há alguns anos o filme Drogas, Uma Realidade Cruel e o documentário Alma de Cristo, ambos trabalhos amadores.
O drama da família do viciado Gustavo, o ator principal, chega ao auge quando os pais decidem acorrentar o rapaz em casa para que ele não vá para as ruas em busca de drogas. Daí surgiu o título da obra.
Os cenários de Acorrentado foram as ruas e residências do próprio bairro Navegantes, o Morro da Glória e a praia do Mar Grosso, onde foi gravada uma das cenas mais chocantes do filme. Na areia da praia o garoto Pirão, um adolescente viciado, é assassinado por outros rapazes.
O final do filme com uma hora e 15 minutos de duração não é feliz. Após trocar uma máquina digital por crack, Gustavo segue para o Morro da Glória com uma corda. No alto do morro ele fuma a droga pela última vez e se enforca.
O DVD do filme foi exibido no final de janeiro para os moradores. Manoel de Oliveira não pretende tornar a obra um produto comercial para ser vendido em lojas, mas quer divulgá-la para mais comunidades da região.
Será muito bom exibir o filme em escolas, ginásios e eventos. Isso não exige grandes investimentos, apenas um bom equipamento com telão e a boa vontade do poder público.
Fonte: Diário Catarinense
Texto: Marcelo Becker