Mulheres debatem feminismo negro
As mulheres negras têm muito o que falar. São elas a base da pirâmide social brasileira. Juntas somam 40 milhões. Grupo destas mulheres de Laguna, Capivari e Tubarão reunidas criaram um coletivo para produzir conhecimento e divulgá-los e instigar o debate.
Na noite da última quinta-feira, dia 18, no auditório da Udesc, professoras, advogada, engenheira, dançarina, estudantes falaram. Baseadas em suas experiências e nas grandes intelectuais negras internacionais e nacionais, elas apresentaram um outro olhar para o feminismo negro.
O debate foi mediada pela advogada Josimara Rufino Estácio Guedes. No final, estudantes narraram histórias de discriminação e fizeram perguntas ao grupo.
Evento foi gratuito com realização do Observatório de Pesquisas e Estudos de Mulheres Negras.
Contou com a presença do procurador do município Antônio dos Reis e do presidente da Fundação Lagunense de Cultura, Márcio José Rodrigues Filho.
O que elas disseram:
Aleida Cardoso – Feminismo Negro Interseccional – professora e mestranda
“Precisamos pensar sobre privilégios. Mulheres já são discriminadas, mulher negra é duas vezes”
“Quando se discute discriminação não podemos esquecer de também debater sobre raça, genêro e classe”.
“O feminismo negro tem suas características diferentes, pois antes ao falar de feminismo era a mulher branca de classe média, hoje não é mais assim”.
Juliana Regazoli – Decolonialidade e Feminismo Negro – professora e socióloga
“A história da produção de conhecimento são de homens brancos. Pouco se sabe das intelectuais negras. A história negra precisa estar cada vez mais no currículo escolar. Uma forma de combater o racismo. Ir além das denúncias é importante”
Pesquisadora citadas foram Leila Gonzalez, Sueli Carneiro, Djamila Ribeiro e mãe beata de Iemanjá.
Juliana Cândido – Mulheres Negras no Mercado de Trabalho – engenheira
“Muitos quando eu falo que sou engenheira de alimentos me olham estranho. No mundo corporativo existe racismo sim. Para mudar isso, o Estado precisa estar mais presente com políticas públicas”.
“O Brasil tem a maior população de domésticas do mundo. Segundo dados de 2017, o país emprega cerca de 7 milhões de pessoas no setor e maioria são de mulheres negras”.
“Mulheres negras estão fazendo faculdade, são poucas ainda. Quando saem para o mercado de trabalho encontrar um emprego não é fácil. Falta oportunidade para a mulher negra”.
Pethyne Alves – Transfeminismo Negro – dançarina
“Infelizmente, o Brasil é o país que mais mata travesti no mundo”.
“Devido o preconceito, muitas mulheres trans acabam indo para a prostituição. Não quero isso para mim. Quero políticas públicas para todos”.
Mulher transgênero, mulher transexual ou, simplesmente, mulher trans é a pessoa que se identifica como sendo do gênero feminino embora tenha sido designada como pertencente ao gênero masculino.
“Olhar diferente do outro já é um preconceito”.
Sofia Dozól – Racismo estrutural – universitária
“Quantas vezes você foi atendido por um médico negro ? Quantos professores negros você tem ?”
“A resposta negativa significa um racismo estrutural, onde as próprias instituições refletem a sociedade discriminatória”.
“Isso não é para achar normal. Isso é para se pensar o motivo ?”
Edição e texto: jornalista Taís Sutero