Dever cumprido depois de 31 anos educando

Sorriso desprentencioso, voz alta e afirmativa, mãos que não param, quando conversa ou acena para adultos que dizem: “Olá professora”. Ficar ao lado da educadora Alzira da Silva Machado Martins, 52 anos, para tomar um café e bater um papo sobre educação, vai ter que dividí-la com muitos que passam, seus ex-alunos.

 

 

 

Depois de 31 anos na sala de aula, maioria na educação infantil resolveu se aposentar. Não está cansada, nem doente, muito menos estressada. “Quero ficar mais com minha família e tenho receio da mudanças na aposentadoria dos educadores no âmbito federal”.
Deverá sentir saudades do carinho que recebia no Dia do Professor, comemorado nesta terça-feira, 15 de outubro. A Secretaria de Educação preparou homenagem para os educadores, e Alzira e outros professores foram lembrados e abraçados. 

 

 

Mãe de três filhos, e de outras centenas “emprestados”, ela se emociona quando fala do futuro da educação, dos alunos que perdeu para a marginalidade e dos ataques ao seu mestre Paulo Freire. “Ele é um grande sábio, maior educador, aprendi muito com ele com seus livros”, diz.

 

 

Frase motivadora para os seus dias na sala de aula de Freire ela declara com orgulho: “Ler o mundo, antes de ler a palavra”. Alzira explica “o professor precisa conhecer a realidade do aluno, para o aprendizado acontecer”, conta. O ser humano necessita ter autonomia, até mesmo a escola, caso contrário “vira massa de manobra”.

 

 

Menos de um mês aposentada, já foi várias vezes no Centro de Educação Infantil Pequeno Cisne, no bairro Portinho, onde lecionou durante anos. Vai lá ver como estão seus pequenos. Pretende se desligar aos poucos.

 

 

Mas não vai conseguir, pois está na gaveta uns rascunhos para um livro sobre a escola que ama: o antigo Caic, hoje formado pela Escola Elizabeth Ulysseá Arantes, Polo de Educação a Distância e o Centro de Educação Infantil Pequeno Cisne. A educação para ela é apaixonante, onde toda a criança é especial. 

 

 

Alzira não ficou parada fez pegagogia, pós, cursos e uma das suas especialidades é legislação na área de educação. Defensora da gestão democrática nas escolas, quer ver mais e mais investimentos na área.

 

 

Questiona sobre a nova moda “professores e gestores pops”, onde tudo se coloca na rede social. 

 

 

Outro ponto é a construção de um vínculo com a criança sendo o pedestal para o ensino, tanto para o aprendizado do aluno como do professor. A auto-estima precisa ser cuidada na escola, dos educadores e da criança.

 

 

O futuro da educação ? Alzira acredita que será voltado para o adulto. “Vamos ter muitos adultos alfabetizados, mas não sabem ler nas entrelinhas, não sabem interpretar e não sabem o seu papel na sociedade”, filosofa.

 

 

Será que sabemos realmente o que queremos para a nossa vida ?

 

 

Essa resposta, para a Alzira a escola deveria ajudar a construir.

 

 

Neste ano, mais de 10 educadores chegaram ao tempo de serviço para a aposentadoria na Secretaria de Educação. Atualmente, são aproximadamente 300 professores na rede. Contabilizando com a rede estadual, particular e o ensino universitário calcula-se que em Laguna são mil educadores. 

 

 

Texto e fotos: jornalista Taís Sutero JN1796