Na espera do frio e vento sul para a chegada da tainha
“Já chego tainha da nossa ?”. Assim que seu Afrásio Costa, 67 anos, entrou na peixaria do Mar Grosso, procurando o peixe típico da costa lagunense.
Na vitrine, as tainhas eram de outras regiões. Significa não muito gordas e nem ovadas. “Não encostou a nossa ainda”, essa foi a resposta do peixeiro se referindo a chegada das tainhas costeiras, principalmente, na região do Farol de Santa Marta.
No sul do município de Laguna são 26 embarcações atuando na captura do peixe, sendo o limite norte a Ilha de Florianópolis e o limite Sul o município de Passo de Torres. Nas últimas semanas, eles estão no aguardo das condições climáticas para o peixe encostar.
O município de Laguna é um dos mais importantes polos de produção de tainha em Santa Catarina, abrigando uma parte considerável da frota de emalhe anilhado atuante no Estado (20,7%)
Sabores na mesa
A especiária é apreciada pelos lagunenses e de outras cidades. Frita, assada, grelhada ou num caldo são os pratos apreciados. Média de preço de R$ 12 a 17 o quilo.
Primeira semana da abertura da temporada da tainha, e os pescadores artesanais estão de olho no vento sul e no frio.
No ano de 2018 foram capturados 208 toneladas de tainha. A produção média por embarcação foi de 8,3 até 4,9 toneladas.
A tainha (Mugil liza) é uma espécie de importância econômica, social e cultural.
Em Laguna são 10 peixarias cadastradas no Sistema de Inspeção Municipal (Sim) e cinco indústrias com o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisb).
Aproximadamente quatro mil pescadores artesanais.
A tainha gera a economia. Média de 200 famílias com alguma atividade voltada a captura do peixe.
Muitos pescadores são surfistas e, nesta época, trocam as pranchas por redes. Exemplo de Edmilson Eufrazio, 32 anos, participa de campeonatos de surf, até julho vai trabalhar em barcos que capturam tainhas. O dia todo na areia da praia na espera.
“Dois pescadores em cada lado da praia, na parte mais alta do morro, e eles vêem o peixe a olho nu, assim fazem sinal com uma bandeira e a gente coloca a canoa no mar e cerca o cardume”, explica.
Pagamentos em dinheiro e peixes
Os pescadores, muitas vezes, recebem em peixes o pagamento, então vendem para terceiros, o chamado peixe do rancho, ou agacho. “Esse peixe fresco é mais barato, eles, os pescadores, ou suas companheiras, avisam por whastapp”, conta a aposentada Célia Duarte, 57 anos, há 30 anos, compra peixe fresco para o almoço dominical da família.
Um lance com muitas toneladas pode gerar R$ 1.000 até R$ 15 mil para o pescador artesanal.
O que movimenta mercados, materiais de construção e lojas da região. Uma parte é guardada para manter a família no resto do ano.
As mulheres nesta cadeia produtiva da safra da tainha têm seu papel para desembaraçar o peixe na rede. Outras filetam o peixe e consertam redes.
Orientações de prevenção ao novo coronavírus
A secretária da Pesca e Aquicultura, Patrícia da Silva Paulino, esteve reunida com representantes da Saúde e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para reforçar as orientações de prevenção ao novo coronavírus durante a temporada de pesca da tainha na região de Laguna.
Somente será permitida a permanência no rancho de pesca da equipe mínima envolvida no lançamento da rede (patrão, remeiros, chumbeiros e a pessoa que fica na praia com a ponta do cabo). O restante do grupo deverá aguardar o chamado em abrigos temporários, ao longo da praia ou nas suas casas, com uso de avisos sonoros, chamadas através de celular ou rádio.
Deverá ser evitado a participação de pessoas pertencentes aos grupos de risco nas atividades que envolvem o arrasto de praia da tainha;
Dia 15 começa a pesca com rede de emallhe anilhado
A Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP) publicou a portaria com a Autorização de Pesca Especial Temporária, com o limite de embarcações, cotas de captura e medidas de monitoramento e controle para a temporada de pesca da tainha no Sudeste e Sul do Brasil.
Segundo a publicação, ficou estabelecido que para a modalidade de cerco/traineira a temporada começará no dia 1º de junho e vai até 31 de julho de 2021, com Autorizações de Pesca Especial Temporária no máximo para 10 embarcações. Já a cota estabelecida ficou em 605 toneladas e cota individual de 50 toneladas por embarcação autorizada com admissão de captura de até 20% acima da cota.
Para a modalidade de emalhe anilhado, mais ligada à pesca de pequena escala, a portaria informa que a atividade começará em 15 de maio e vai até 31 de julho: são 130 embarcações com uma cota de 780 toneladas.
Texto: jornalista Taís Sutero