Camarão Laguna terá registro de Indicação Geográfica

Certificação oficial da área ocorre em 21 de outubro, às 10h30, no Mercado Público de Laguna

Produtores de camarão de Laguna buscam espaço no mercado e reconhecimento da qualidade de seu produto, em parceria com o Sebrae/SC, com a autenticação por meio da Indicação Geográfica (IG). A certificação oficial da área ocorre em 21 de outubro, às 10h30, no Mercado Público de Laguna. Além da entrega do registro, a data será marcada pela degustação do crustáceo.

“O registro agrega valor ao Camarão Laguna e, de certa forma, trabalha a segurança alimentar, afinal muita gente usa a marca indevidamente, em várias partes do país. A Indicação Geográfica é uma forma de resguardar o produto”, salienta a gestora de projetos da Gerência Regional Sul do Sebrae/SC, Juliana Ghizzo.

Além da dificuldade de reconhecimento sobre o Camarão Laguna, os produtores são poucos. A Associação Catarinense de Criadores de Camarão (ACCC) já foi uma entidade com mais de 100 sócios. Hoje, após a passagem de uma doença que matou boa parte dos camarões, são pouco mais de 10 produtores em todo o estado. Com o reconhecimento da IG, a tendência é ampliar o número de fazendas.

Única fazenda de camarão orgânico no Sul do Brasil

Zeno Alano Vieira é presidente da ACCC e produtor de camarão. Em 2002, ele e dois irmãos começaram uma criação. “Nós iniciamos uma atividade familiar, tínhamos uma fazenda de 100 hectares e uma área de tanque de quase 30 hectares. Começamos produzindo bem por uns dois anos, depois houve a eclosão da mancha branca, uma doença viral que atacou e dizimou a produção aqui no estado”, lembra.

Após um tempo de vazio sanitário, a família começou de novo, em 2005, mas não teve êxito pelo alto índice de mortalidade deixado pelo vírus. O impacto econômico na região foi notável, pessoas perderam o emprego e empresas faliram. Hoje, ele conseguiu voltar ao negócio com a ajuda dos dois filhos, agrônomos. Eles possuem a única fazenda no Sul e Sudeste do Brasil de camarão orgânico, com a alimentação totalmente natural.

“Resolvemos seguir em uma linha diferente, com apoio do Sebrae/SC, que é o que está conseguindo nos manter. Chegamos a um modelo de produção que respeita o meio ambiente. Não usamos os métodos tradicionais, fazemos dois cultivos por ano e não damos ração, nós retemos carbono. A fazenda é um refúgio para a espécie migratória”, frisa o presidente da ACCC.

IG ressalta diferencial do camarão de Laguna

Dos 20 diagnósticos realizados, 15 apontaram que o diferencial do produto elencado tinha ligação com a sua origem. O Camarão Laguna apresentou esse resultado, além de uma elevada notoriedade do produto no mercado de SC e do restante do país. Ele é considerado peça-chave na formação identitária da população residente no Complexo Lagunar e um ativo importante para a gastronomia e o turismo regional.

“A produção de camarão em Laguna já é conhecida em todo o Brasil. Ainda assim, esse trabalho que o Sebrae/SC vem fazendo em relação à Indicação Geográfica, certamente, tem uma importância muito grande na região”, comenta Zeno. O presidente da associação define o projeto como uma forma de ressaltar a qualidade diferenciada do camarão produzido nas fazendas de Laguna.

“Por ser um sistema de água salobre, uma mistura da água doce e a salgada, que existe em poucos locais na costa, Laguna é um lugar privilegiado. Com isso, nós temos um camarão diferente. O camarão produzido aqui é consumido aqui, não é como no Nordeste, que leva três dias pro camarão chegar aqui. Temos um camarão de características próprias, com alimentação natural, em uma fazenda orgânica”, pontua o criador.

Com a IG estabelecida, foi possível disponibilizar uma estação de pesquisa local. Em vez de usar o camarão do nordeste, a meta é valorizar a espécie e fortalecer o consumo do camarão local. Isso protegede concorrentes com o crustáceo mais barato, proveniente do Rio Grande do Sul e estados do Nordeste.

“Tem uma ampla variedade de camarões, queremos que o público diferencie, que venha a Laguna para comer o melhor camarão que puder encontrar. Você não vai encontrar um camarão tão bom em nenhum outro lugar do Brasil. Se você quiser um camarão barato, não é o de Laguna. O nosso é para uma data especial, não é do dia a dia, baratinho. Tem que ter espaço para todos”, ressalta Zeno.

Parceria e processo de implantação da IG

A parceria entre o Sebrae/SC, UFSC, UDESC, IFSC, Secretaria Estadual de Agricultura e as prefeituras de Laguna, Imbituba, Pescaria Brava, Jaguaruna e Imaruí iniciou o projeto de reconhecimento do Camarão Laguna. A ACCC foi a requerente da IG. Segundo o analista técnico do Sebrae/SC, Alan Claumann, as entidades definiram os processos e as características do produto.

“Reuniões foram realizadas ao longo de aproximadamente quatro anos. Uma série de documentos foi produzida e está encerrada em um dossiê que será encaminhado ao INPI [Instituto Nacional da Propriedade Industrial] para pedido de registro da IG. A Secretaria de Estado da Agricultura foi uma grande parceira da iniciativa e oficializou a área oficial de produção do Camarão Laguna”, explica o analista.

Foram elencados os produtos agroalimentares de SC mais conhecidos no mercado regional e nacional, seguida da aplicação de um diagnóstico para comprovar o elo entre o produto e o território de produção. “É preciso fazer a delimitação geográfica em Laguna, que é um complexo lagunar e, depois disso, tem que gerar documentos, formar associação e gestão da marca, para poder protocolar o pedido”, explica Juliana.

Sete IGs registradas e oito em processo

O Sebrae/SC atua na formação de alianças e na disponibilização de ferramentas metodológicas para a construção de processos de pedidos de IGs. Em Santa Catarina, já são sete registradas com o apoio da entidade:

·         Vales da Uva Goethe, em Urussanga;

·         Banana da região de Corupá;

·         Maçã Fuji da região de São Joaquim;

·         Vinhos de Altitude de SC;

·         Mel de Melato da Bracatinga.

E oito em processo de construção:

·         Camarão Laguna;

·         Ostras de Florianópolis;

·         Banana de Luiz Alves;

·         Cachaça de Luiz Alves;

·         Linguiça Blumenau;

·         Alho Roxo do Planalto Catarinense;

·         Milhos Crioulos de Anchieta;

·         Frescal de São Joaquim.

Texto: Giovana Bordignon | Partner NZBT Comunicação

Fotos: Mafalda Press