Pescadores na espera da chegada da tainha

O peixe mais apreciado nesta época do ano nas mesas dos lagunenses e de toda a região deve chegar na costa catarinense, em grandes quantidades, a partir deste mês de maio. Os pescadores artesanais são os primeiros na captura da tainha. A chegada do vento sul é sempre muito aguardada. 

No Farol de Santa Marta, na Prainha, o primeiro cerco já trouxe meia tonelada de peixes, nos primeiros sopros de vento no início do mês de maio.

Nos primeiros dias de maio, apenas barcos movidos à força humana são permitidos a ingressar no mar. Quinze dias depois, barcos a motor, de pequenas dimensões. Quinze dias após será a vez das traineiras e barcos grandes.

 “Ano passado nem molhou a tarrafa. Neste ano, as tainhas vieram. No primeiro lanço, foi colhido do mar cerca de 500kg de tainha ovadas e leiteiras.”, segundo Aurélio, pescador da Prainha do Farol de Santa Marta.

 A preferida dos pescadores é a tainha ovada, pois a iguaria tem um bom preço no mercado.

O presidente da Fundação Lagunense de Cultura, Márcio Rodrigues Filho, que estava acompanhando o primeiro lance afirma que “nós ficamos na torcida de que o mar traga a esses homens seu sustento para que essa tradição jamais se perca. E a abertura com este lanço de meia tonelada já é um excelente presságio.”

 Toda a tradição da pesca da tainha e suas peculiaridades são consideradas patrimônio cultural de Santa Catarina.

 Cotas de Pesca

Este ano, a quantidade de traineiras será de 50 barcos. Na pesca anilhada, serão 130 embarcações. O limite de capturas deve ficar em 3,8 mil toneladas para as duas frotas.

Segundo a secretária, Patrícia da Silva Paulino, para o pescador artesanal de Laguna, a fiscalização das cotas partirá da Secretaria de Pesca e Agricultura Municipal, onde duas vezes na semana dados serão colhidos nos ranchos de pesca.

A ONG Ocena – Protegendo os oceanos do mundo está elaborando um Plano de Gestão da Tainha, com base científica, onde foi sugerido cotas para a safra da tainha deste ano.

Esses limites dariam estabilidade e equilíbrio à produção pesqueira e à atividade econômica, protegendo o estoque, o recurso natural, evitando que ele seja explorado além do seu limite. A cota é uma das principais ferramentas de manejo usadas em todos os países que ordenam bem suas pescarias. 

Economia do município

De acordo com estatísticas da Federação dos Pescadores do Estado de Santa Catarina em 2016 foram capturados 542.360 mil quilos de tainha em Laguna, em 2017, 290.124 mil. A expectativa é aumentar os números. Para isso, as frentes frias devem ser intensas. Os peixes são vendidos para empresas de pescado principalmente em Cabeçuda, supermercados, restaurantes e peixarias e encaminhados para várias regiões. Quem estiver na praia no momento do arrastão da rede vai poder levar o peixe fresco. Os valores do quilo da espécie variam de R$ 10,00 para mais.

A tainha é um dos mais importantes peixes da costa. Sua pesca não é apenas uma atividade de grande importância econômica, mas é também um patrimônio cultural.

Nos meses mais frios, a safra da tainha, a pesca artesanal é uma das mais tradicionais, onde existe enorme demanda por tainha. As tainhas capturadas pelos pescadores artesanais abastecem, além de suas próprias famílias, os comércios local, como as peixarias e restaurantes, sendo uma importante fonte de renda. A tainha é extremamente apreciada na nossa região, sobretudo pelo excelente sabor e pela presença da ova, sendo uma iguaria muito apreciada na culinária. 

No mês de junho, a Secretaria da Pesca está planejando realizar uma feira da tainha na comunidade do Farol de Santa Marta, juntamente, com pescadores e comunidade em geral, onde será oferecido pratos a base de tainha, artesanato e comemoração ao dia do pescador.

Cinco milhões de ovos

A tainha (Mugil liza) tem um ciclo de vida que a torna particularmente frágil à pesca intensa. Depois de viver seu primeiro ano no mar, ela entra nos estuários e lagoas costeiras, onde cresce até 4 a 6 anos, quando atinge a idade adulta. A partir daí, a cada outono, machos e fêmeas formam grandes cardumes para empreender uma longa jornada: a migração reprodutiva no mar. Nesta região, os peixes costumam sair da Lagos dos Patos, no Rio Grande do Sul. 

Cada tainha vai desovar até 5 milhões de ovos, que dependerão do acaso para serem fecundados, formarem pequenos juvenis, que se dirigirão para os estuários, onde crescerão e fecharão o ciclo da vida. A chamada safra da tainha é a pesca entre maio e julho, durante a migração reprodutiva da espécie, Quando se capturam os peixes adultos, as ovas das fêmeas, antes da desova e fecundação no mar, são muito valorizadas no mercado. 

Captura da tainha por quilo

2003 – 86.290 

2004 – 31.028 

2005 – 21.955 

2006 – 99.671 

2007 – 242.980 

2008 – 17.910 

2009 – 213.820 

2010 – 58.090 

2011 – 46.022 

2012 – 27.560 

2013 – 347.500 

2014 – 84.410 

2015  – 109.200 

2016 – 542.360 

2017 – 290.124

Fonte: Federação dos Pescadores do Estado de Santa Catarina 

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Texto e edição: Taís Sutero e Fabiana Pangrácio

Fotos: Márcio José Rodrigues Filho