Eles escolherem Laguna para morar e viver em paz
Cada um teve uma história diferente. Desejo de mudança, outros uma pausa na correria, divórcio, novo amor, aposentadoria. Estes enredos se cruzam nas ruas de Laguna, na ida para o mar, na passada pelo centro histórico.
Uma das cidades mais antigas do Estado tem seu charme, este seu jeito peculiar, provoca paixões há 342 anos. No próximo domingo, Laguna comemora aniversário.
Em cada bairro tem alguém que decidiu escolher Laguna para viver em paz, ter uma vida tranquila e de qualidade. Nasceram em outras cidades, mais prefereriam ter sempre vivido com o barulho do mar e o vento, onde possa pausar na hora que quiser e viver mais perto da natureza.
Mudança de hábitos, coragem, admiração pela simplicidade e vontade de investir em novos projetos são características unânimes de quem firmou os pés em Laguna depois de passar por outros lugares.
O município tem 51 mil habitantes e não existem dados estatísticos oficiais de moradores atuais vindos de outros lugares.
“Quero um casa no campo, onde eu possa…”
A professora de filosofia e sociologia, Juliana Regazolli, poderia ser a personagem da famosa música de Zé Rodrix, interpretada por Elis Regina.
“Estava procurando uma cidade menor que pudesse oferecer alguma infraestrutura, praia e onde eu pudesse estar mais próxima da natureza”.
Até os 20 anos, Juliana viveu em Campinas, depois mudou-se para Florianópolis e estudou na Universidade Federal. Mora há 3 anos em Laguna e vive em paz com a sua escolha. Convicta da mudança, as consequencias foram felicidades e disposição.
“Conheci a Barbacena e me apaixonei. Escolhemos construir nossa casa, eu e o meu marido, onde poderíamos plantar alimentos orgânicos para a família. O principal motivo foi ter mais qualidade de vida, passar menos tempo no trânsito”.
Para ela “o lugar ideal para criar o filho”. Hoje com 13 anos.
“Gosto de muitas coisas: de caminhar no centro histórico, das praias, da vida mais tranquila, amo a Barbacena, o Parobé, o Farol. Adoro essa mistura de campo com litoral”
Laguna a inspira, é uma pessoa multiempreendedora, gosta de atuar em várias áreas: como doula, professora de ioga, terapeuta floral, professora de sociologia, produtora cultural, jardinista, produtora de alimentos orgânicos, arte educadora, feminista e conselheira de cultura afro-brasileira.
Afinal, o que é viver em paz ?
A paz é um estado de espírito, uma sensação de tranquilidade e leveza de estar de bem consigo mesmo, dizem os especialistas.
Viver em paz é uma questão de escolha e mudanças.
A psicóloga Michella Flores acrescenta mais. “Grande verdade é que não apreciamos o desconforto e as incertezas das mudanças em nós. No máximo, aceitamos de bom grado aquelas que podemos controlar e trazem benefícios indiscutíveis. O problema é que as principais transformações que marcam nossas vidas não são totalmente controláveis e ainda podem ser assustadoras”, define.
“Regarregar as baterias”
A instrutora de ioga Kátia Nascimento, 44 anos, natural de Tubarão, trabalhou e morou em outras cidades, mas foi em Laguna, no alto de um morro cheio de verde e na beira da lagoa que encontrou paz. “Eu sinto que acontece uma forte conexão com a minha essência quando estou aqui. É onde eu recarrego minhas baterias, com o cheiro de maresia, a vegetação, o agreste, o pôr do sol”, descreveu.
Devido as suas atividades para atender os clientes trabalha em outras cidades, mas sempre volta para o “ninho”, acende a lareira, escuta os pássaros, o vento na janela, se o tempo ajudar vai até a praia do Gravatá sobe na pedra mais alta e faz a asana da guerreira (posição do ioga) e está pronta para mais uma semana.
Casal agro e artesão
Recife, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A vida de mudanças de residências do casal Gildo Marinho e Astrid Ziegler parou quando conheceram Laguna e chegou a aposentadoria.
Compraram um terreno no interior e decidiram empreender. O ócio não está no cotidiano de ambos. Plantam verduras sem agrotóxicos, prepararam artesanatos, participam de feiras, estudam com cursos de temas variados.
Não pensam em parar e nem sair de Laguna. A ligação com o mar e o centro histórico fascinou o casal. Uma vez por mês, eles estão no centro histórico vendendo seus produtos na Feira Livre.
Custo de vida é menor, vida simples. O planejamento foi fundamental para alcançar seus planos e não tiverem receios de mudanças.
Resistir as mudanças
Cada indivíduo reage de uma forma à mudança. Alguns podem ficar ansiosos, entusiasmados, animados e esperançosos; outros, confusos, bravos ou inseguros.
Segundo a psicológo Michella, as pessoas podem resistir à mudança por muitas razões.
Medo
Medo da incerteza, infelizmente, paralisa as pessoas. O fato do indivíduo não saber exatamente para onde está indo, ou quais serão os resultados de uma mudança em seus atos, não pode ser a desculpa para a inércia. A resistência as mudanças ocorre porque elas trazem o elemento do “desconhecido”.
Zona de conforto
O raciocínio funciona da seguinte forma: “se eu estou bem aqui, pra quê mudar?“. Essa é a grande armadilha de ficar na zona de conforto. Pois, “se você ficar no conforto, você fica estagnado. Você não vai para frente”.
Mas ficar na zona de conforto, resistindo à mudança, não tem raízes apenas psicológicas: tem também explicações biológicas. É que o nosso cérebro foi feito para conservar energia, e mudança de comportamento requer gasto de energia, na medida em que implica uma nova rotina de comportamentos, diferentes dos que estamos habitados a praticar. É por isso que é tão difícil aceitar as mudanças: porque temos que lutar contra nossos próprios instintos biológicos para que elas se operem.
Exposição a julgamento.
Esse motivo é “cruel”, porque, em muitos casos, acaba sendo o principal motivo para você não mudar aspectos de sua vida que você sabe que precisa mudar. Você não promove mudanças em sua vida porque, no seu íntimo, quer evitar o que as pessoas irão dizer a seu respeito. Você resiste às mudanças porque não quer ser exposto a julgamentos.
Querer implica movimento, e movimento implica independência, independência implica responsabilidades. “Então, ser responsável significa assumir as consequências das suas próprias escolhas”
Mais tempo livre para fazer o que gostam
Diante de uma vida bastante sobrecarregada nos centros urbanos, muitas pessoas estão optando por priorizar por ter qualidade de vida, e poder desfrutar de mais tempo livre para fazer o que gostam e o que lhes dão satisfação.
“Cada dia as pessoas estão refletindo e buscando a felicidade a partir de uma vida mais simples, mais próxima da família, dos amigos e, em maior contato com a natureza. Além de ser uma perspectiva preventiva para a manutenção da saúde física e mental, é também uma saída mais econômica para os tempos de crise”, definiu a professora de filosofia, Juliana Regazzoli.
Dentro da filosofia, um campo do conhecimento que contribui para a existência humana, a busca pela felicidade é um dos elementos que orientam os sujeitos na jornada, na tentativa de compreender a existência e sua relação com o universo.
Desta forma, a felicidade é encontrada naquilo que o ser humano faz de si mesmo, e menos naquilo que ele consegue adquirir materialmente.
Para o filósofo francês Roberto Misrahi, a felicidade está pautada na “experiência de ser”, que se efetiva através do sentimento de satisfação, de alegria, contentamento, e que podem ser momentâneos; na autonomia de decisão, que é saber decidir sobre as prioridades; disponibilidade para reflexão, para olhar para a vida como um todo, compreendendo com alegria os projetos que são fruto da tomada de decisões.
Texto e edição: jornalista Taís Sutero