Memória da comunidade negra terá espaço no Museu Histórico Anita Garibaldi

Quando foi assinada a República em Laguna, no ano de 1839, na mesa de madeira maciça, no mesmo local e prédio que está hoje, o Brasil era escravocrata, a suposta libertação dos escravos ocorreu em 1888. Passados 180 anos descendentes dos negros reivindicam a história não contata. Em Laguna, no período colonial milhares de negros estiveram em Laguna trazidos e encaminhados para outras regiões do país pelo porto de Laguna. No Museu Histórico Anita Garibaldi não há registros, objetos ou peças deste período.

 

Não fazemos parte da história ? Com este questionamento foi debatida a memória negra, dentro da programação da 17ª Semana Nacional dos Museus, organizado na cidade pela Fundação Lagunense de Cultura, na tarde do último dia 15. 

 


Como resultado um espaço será preparado no museu para o reconhecimento do negro na história de Laguna. Na historia da República Juliana, momento que revolucionários solicitavam a indepedência do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, negros integraram o ato, como soldados e outros, está história não é revelada. 

 


Na mesa, onde foi assinada a República, pela primeira vez, os descendentes de negros puderam falar sobre suas lutas, reivindicações, história e pedir o reconhecimento.

 

Na mesa, a professora de sociologia, Juliana Regazzoli; pesquisador Júlio da Rosa; procurador do município, Antônio dos Reis; guia de turismo, Antônio de Oliveira e a professora Claudete de Nascimento.

 

O quadro do poeta negro Cruz e Souza e um antigo pelourinho são umas das únicas peças que remetem aos negros no museu.

 

“Não podemos mais fechar os olhos para essa história”, disse a presidente da Fundação Lagunense de Cultura, Mirella Honoratto.

 

Os negros em Laguna tiveram um papel importante no decorrer da história da cidade. Um grupo de trabalho será formado para organizar uma sala dentro do museu sobre o povo negro. Desde arte sacra, religião africana, carnaval, educação, música, clube de leitura e social para contar as histórias.

 

O advogado e procurador do município, Antônio dos Reis, nas suas explicações lembrou a igreja do Rosário, construída e frequentada pela comunidade negra. Os registros históricos indicam que o terreno foi adquirido em 1828 e a primeira festa ocorreu em 1836,  onde aconteciam festejos católicos e também das matrizes africanas.  A estrutura foi demolida na década de 30. A  irmandade do Rosário teve uma história de resistência e de luta pelo fim da escravidão.

 

Uma proposta de erguer um monumento no local do prédio histórico, destruído pelo tempo e por preconceitos em derrubar a igreja que era dos “homens de pretos”.

 

A professora Claudete do Nascimento, descendente de Júlia Nascimento, negra que no ano de 1903, montou uma escola particular para os filhos da elite branca lagunense da época. Tornou-se uma precursora na educação. Hoje a família guarda móveis, fotos e documentos da época, que poderão servir para o futuro espaço histórico no museu.

 

O Clube União Operária e Clube Cruz e Souza ambos fundados pela sociedade negra ressurgiram com o livro do professor e pesquisador Júlio da Rosa base de pesquisa para futuras ações do grupo que terá a missão de não deixar de ser esquecida a memória da população negra.

 

“Hora de pensar e valorizar. São propostas importantes surgidas neste debate”, concordou Mirella Honorato.

 

Texto e fotos: jornalista Taís Sutero MTB – 1796