Imagem de Nossa Senhora do Rosário voltará a ser vista pelos lagunenses

A imagem tem mais de 100 anos. Fica guardada a sete chaves na igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, no bairro Progresso, a Roseta.

 

Populares e pesquisadores acreditam que a santa de 75 centimetros, de madeira, estilo barroco é a padroeira Nossa Senhora do Rosário, da igreja erguida a partir de 1845, formada por fiéis africanos e afrodescendentes escravizados e libertos.

 

A própria história-memória da estátua da Santa, que ficava no altar da Igreja do Rosário, está envolta em mistério.

 

Nesta terça-feira, dia 19, dentro da programação da Semana da Consciência Negra, a imagem será exibida ao público, depois de anos. A missa afro começa às 19h, na igreja Santo Antônio dos Anjos. O evento terá a coordenação da Pastoral Afro.

 

Laguna tem fortes ligações históricas com a África, por aqui, na época da escravidão, o antigo porto era um ponto de distribuição de escravos para a região. Somente no ano de 1860, a província de Laguna tinha 33.432 mil habitantes, sendo 3.310 mil escravos. Estes homens e mulheres trouxeram a sua religiosidade.

 

A Fundação Lagunense de Cultura já vem realizando movimentos para a valorização da cultura negra na cidade. Neste ano, durante a Semana dos Museus promoveu um debate com estudiosos e moradores da cidade sobre a invisibilidade do negro.

 

A partir deste diálogo surgiu a necessidade de agregar no acervo do Museu Histórico Anita Garibaldi, responsável pela narrativa da colonização de Laguna, de ter um espaço para contar a história dos negros.

 

Conforme a presidente da Fundação Lagunense de Cultura, Mirella Honorato, um trabalho será efetuado pela professora e pesquisadora Juliana Regazolli, vencedora do edital de chamamento, que deverá apresentar o trabalho até fevereiro de 2020, para a montagem de um exposição fixa no acervo. 

 

“A presença da santa numa missa ecumênica de matriz afro brasileira é muito significativa neste momento”, aponta Mirela.

 

 

A antiga igreja

 

 

A igreja de Nossa Senhora do Rosário estava localizada no alto do Morro do Rosário, no centro histórico de Laguna.

 

 

Em 1828, a irmandade de negros e descendentes adquiriu o terreno para a construção do templo. A igreja, segundo Nail Ulysséa em seu livro, começou a ser erguida em 1845. Sua fachada simples era composta por um óculo circular e duas torres sineiras com cúpulas.

 

 

O altar-mor, em madeira, só foi concluído em 1880, pelo entalhador Gustavo Scholte. A igreja foi construída muito lentamente, visto que os recursos provinham da arrecadação da irmandade.

 

 

Até 1885 a procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos saia do Morro do Rosário. Depois dessa data, ela passou a iniciar na Igreja Matriz de Santo Antônio dos Anjos seguindo até a Capela do Hospital de Caridade.

 

 

No final do século XIX a imprensa local publicou notas sobre o estado decadente do templo, que foi demolido, segundo Ulysséa, em 1933. João Dall’Alba, por sua vez, indica que a igreja foi destruída em 1940. No dia 2 de setembro de 1941 foi efetivada a venda do terreno em que a Irmandade do Rosário havia construído o seu templo.

 

 

Santo do rosário que auxilia a fé e proteção

 

Conta a história oral pesquisada, nos primórdios dos anos 30, o antigo Morro da Roseta, era uma pequena povoação bem próxima do centro da cidade de Laguna, formada por pequenas casas de madeira. Lares de alguns pescadores e operários que viviam com suas famílias.

 

Moradores preocupadas com a religiosidade, decidiram construir uma igreja. Com doações compraram um terreno e iniciaram a obra.

Faltava uma padroeira. Os fiéis procuram o paróco da época, Bernardo Philipi, que avisou sobre uma imagem no forro da igreja matriz de Nossa Senhora, muito antiga e necessitando de reparos.

 

Ela foi adotada e segundo, os pesquisadores, passou de Nossa Senhora do Rosário para Auxiliadora, ambos os nomes, usados para a imagem que remete as orações e pedidos com o rosário numa das mãos.

 

Passaram os anos, a antiga imagem foi substituída por uma maior, a santa da igreja de Nossa Senhora do Rosário foi guardada.

 

 

Referências:

 

Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro/Série de Visitas Pastoral. Notação VP:11.

Biblioteca Nacional, Resumo geral de toda a população pertencente ao Governo da Capitania da Ilha de Santa Catarina, extrahido dos Mapas que derão os Comandantes dos Destritos do ano de 1812. Oficio de D. Luiz Mauricio da Silveira ao Conde de Aguiar, Sta Catarina, 6 de agosto de 1813. I-31, 29, 18 n. 4.

DALL’ABA, João Leonir. Laguna antes de 1880 : documentário. Florianópolis : Lunardelli, 1979.

SAYÃO, Thiago. Negras paisagens: (in)visibilidade afrodescendente em Laguna (SC). In: Museion, Canoas, n.21, ago. 2015, p.35-45.

ULYSSÉA, Nail. Três séculos na Matriz de Santo Antônio dos Anjos da Laguna. In: Santo Antônio dos Anjos da Laguna : seus valores históricos e humanos. Publicação comemorativa da passagem do seu tricentenário de fundação. Florianópolis : IOESC, 1976.

 

 

Edição e foto: jornalista Taís Sutero JN 1796