Iphan inicia reuniões em comunidades para o processo de tornar os “Botos Pescadores” como patrimônio cultural imaterial nacional

Foi realizada a primeira reunião, de um total de quatro, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com debates entre pescadores e comunidade para o processo de registro da pesca artesanal com auxílio de botos como patrimônio imaterial nacional. É uma forma de fortalecer os aspectos que envolvem a pesca artesanal e impulsionar as entidades a tomar providências de proteção ao boto e a cultura que o abrange.

 


Representando o Governo Municipal estavam o procurador jurídico do município, Antônio Reis, a presidente da Fundação Lagunense do Meio Ambiente (Flama), Deise Cardoso e a secretária de Pesca, Patrícia Paulino.

 


Durante o encontro, o antropólogo do Iphan de Santa Catarina, Lucas Cimbaluk, apresentou o que é patrimônio imaterial e cultural brasileiro e mostrou em que fase está esse processo de registro da pesca com auxílio dos botos no Livro de Saberes do Patrimônio Imaterial Nacional.
De acordo com o profissional, existem cinco etapas de tramitação do processo de registro composto por: solicitação e análise preliminar; avaliação da pertinência; instrução técnica do processo; avaliação final e ações decorrentes.

 


“Essa pesquisa precisa para o registro precisa ser ampla e caracterizar que aqui é o único lugar no mundo em que isso acontece, da forma como é feito e com todas as características peculiares únicas”, salientou Cimbaluk.

 


Com a análise preliminar favorável, emitida pelo Iphan no final de 2018, após o pedido ter sido solicitado em 2017 pela Pastoral da Pesca, o processo atualmente encontra-se entre a terceira e quarta fase de tramitação.

 


A instrução técnica, que compõe a terceira fase, está sendo feita através de uma consultora da Unesco, contratada pelo Iphan, a antropóloga Letícia Viana.


“Esse bem, ou seja, a pesca colaborativa com os botos não depende do poder público para se preservar, porque ela veio até aqui por vontade dos pescadores, pelos saberes locais deles, que souberam criar as condições para que o boto chegasse, mesmo diante de todas as questões ambientais graves como são apontadas. Apesar de tudo o boto ainda vem, em função de relação estabelecida com os pescadores. O primeiro agente de proteção e salvaguarda de proteção é o pescador. O poder público tem seu papel de dar todas as condições para o pescador fazer isso”, destacou Letícia Viana.

 

 

Mais encontros com a comunidade serão realizados:

 

Dia 12 – 9h – salão paroquial de Campos Verdes

Dia 12 – 14h – Molhes da Barra

 

 

Em 2018, Laguna já recebeu pela Fundação Catarinense de Cultura, o certificado de registro da pesca artesanal com auxílio dos botos como patrimônio cultural imaterial de Santa Catarina.

 

 

Proteção aos botos

 

É uma forma de fortalecer os aspectos que envolvem a pesca artesanal e impulsionar as entidades a tomar providências de proteção ao boto e a cultura que o abrange.

 

Conforme a última estatística atualizada de 2015, a população de Botos está estimada em 53 indivíduos, que habitam o canal da Barra, na região dos Molhes, Lagoa Santo Antônio e Lagoa de Mirim, principal área de concentração dos animais.

 

A gastronomia, linguagem coloquial, paisagem, barco, tarrafas, redes de pesca integram a manifestação popular lagunense que é a pesca com auxílio dos botos. A intenção é tornar tudo isso em patrimônio imaterial.

 

No Brasil, são vários exemplos como o doce chuvisco em Campo dos Goytacazes, no Rio de Janeiro e a canoa caiçara em Paraty. Em Santa Catarina, o Berbigão do Boca, em Florianópolis. Em Blumenau, o kochkaese, um prato típico alemão, é patrimônio cultural imaterial da cidade.

 

 

Sobre a pesca artesanal

 

Em Laguna, os botos costumam passear pelo canal que liga a Lagoa de Santo Antônio ao mar aberto.

 

Os pescadores preparam suas tarrafas (uma espécie de rede circular, de mais ou menos 3 metros de diâmetro) e colocam-se à beira do canal, a pé ou de canoa, dependendo da maré. Ao perceber a presença dos humanos, os cetáceos passam a cercar os cardumes que entram e saem da Lagoa, sobretudo as tainhas, e os afugentam na direção dos pescadores. Os peixes que escapam das redes viram presa fácil e vão parar no estômago dos botos.