Solidariedade em tempos de pandemia
Atchim. Maria* , 45 anos, escutou um espirro vindo da sala, quando entrou para trabalhar.
Os patrões acabaram de chegar de viagem, as malas estavam espalhadas. Fez o café, preparou a mesa. Depois o casal conversou um pouco sobre o aeroporto lotado, vinho quente e preços altos.
Os dois não paravam de espirrar pediram chá e foram para o quarto. Dias se passaram, Maria, empregada doméstica, começou a sentir-se mal, com febre e dor no corpo.
Assim como os patrões estava com Covid-19, trazido de um país que ela nem conhecia. Até então nem sabia do que se tratava o coronavírus.
Era início de março, foi diagnosticada no hospital, sentiu falta de ar, febre e medo de morrer. Dias depois a Organização Mundial de Saúde declarou a situação como uma pandemia.
Hoje está curada, já fez o teste e seus anticorpos reagiram bem. Em casa, sozinha e no isolamento, as sequelas emocionais e físicas seu corpo e mente persistem em lembrá-la.
Moradora da região da Amurel, conseguiu abrigo e palavras confortantes na rede social com amigos e outros que fez numa rede de solidariedade. Tenta manter a calma, não se sentir tão triste e auxiliar amigos a se cuidarem, pois não é uma simples gripe, diz ela.
Redes sociais
Várias pessoas estão utilizando a internet para ajudar umas às outras.
A assistente social Ana Cristina Correa montou um grupo no whats com pessoas aflitas, sozinhas e ansiosas. “Muita informação está deixando pessoas angustiadas”, descreveu.
A filha, Laura, 11 anos, é a sua companhia na quarentena.
Com as amigas troca mensagens de carinho, piadas, receitas e dicas do que fazer no isolamento.
“Estamos acostumados a sair de casa, conversar na rua com conhecidos, ir trabalhar, mas agora, temos que ficar isolados para nos proteger e não ficarmos doentes”, conta Ana, que está trabalhando em home office.
Senhoras dos grupos de idosos, se encontravam uma vez por mês na semana, agora tem que aprender a usar a internet para conversar.
“É o momento de unirmos forças para que acabe logo, e da melhor forma possível”, afirmou uma delas.
“A única diferença que temos nesta pandemia é a imunidade e os fatores de risco, de resto todos podemos estar sujeitos a nos contaminar, principalmente, se não seguirmos as recomendações”, disse Ana.
Para o grupo de amigas virtuais é o momento de espalhar amor, o mundo já está muito triste, comentam.
A psicóloga Luana Branco lembra do coletivo neste momento cheio de incertezas.
“Exercitar a empatia é necessário, mas precisamos pensar no todo. A solidariedade não está apenas na ajuda material, mas no carinho, no cuidado e atenção com as pessoas”, exemplifica.
Como cuidar da saúde mental durante a quarentena?
– Investindo o seu tempo em atividades prazerosas, e descobrindo novos interesses.
– Aproveite para fazer coisas pendentes em casa, principalmente aquelas tarefas que sempre foram adiadas, por conta de outros compromissos.
– Esse é o momento de exercitar a paciência, o convívio entre pessoas pode ser difícil, quando a situação é de recolhimento social em casa.
– O melhor caminho é sempre o diálogo, expressar o que sente, evitando explosões emocionais e discussões desnecessárias.
– Experimentar tristeza, ansiedade, medo, raiva e outras tantas emoções, pode ser natural, diante das atuais circunstâncias. Mas fique atento sobre a intensificação dessas emoções. Pedir ajuda se torna fundamental.
– A internet pode ser uma ferramenta muito útil neste momento. Usá-la com sabedoria: evitar se fixar somente em notícias vinculadas à pandemia e, aproveitar o benefício de manter o vínculo com familiares, amigos e comunidade. Somos seres sociais e, necessitamos estar em constante interação.
– Entender que a saúde mental do outro também é importante! Não repassar informações sem ter certeza da fonte, somente os dados oficiais são confiáveis.
– Não gerar pânico nas pessoas! Informar é preciso, gera prevenção. Mas aterrorizar, só gera o caos.
Psicóloga Luana Branco de Abreu
CRP 12/08573
* Maria prefere não se identificar para não sentir represálias. Por enquanto, os patrões não a demitiram. Todos estão no isolamento em suas residências.
Texto: jornalista Taís Sutero – JN 1796