200 anos de Anita Garibaldi! Bicentenário é comemorado com colocação de placa e apresentação especial das Guardiãs de Anita
Momento histórico! São 200 anos de aniversário da maior guerreira e filha de Laguna. Ana Maria de Jesus Ribeiro, nossa Anita Garibaldi, completaria nesta segunda-feira (30), 200 anos desde o seu nascimento.
As festividades estão sendo celebradas ao longo de vários meses, através da Fundação Lagunense de Cultura, que organizou uma série de apresentações culturais, como lançamento de livros, documentários, cavalgadas, concursos de vitrines, condecorações e hoje com a colocação de placa comemorativa.
A cerimônia de inauguração da placa, instalada atrás do monumento de Anita Garibaldi, foi realizada nesta manhã com presença do prefeito Samir Ahmad, do vice-prefeito Rogério Medeiros, da presidente da Fundação Lagunense de Cultura, Vanere Rocha e do grupo ‘Guardiãs de Anita’.
“Anita colocou Laguna no mapa para o mundo, aproximou ainda mais o Brasil da Itália e até hoje colhemos frutos dos seus feitos. Também é exemplo de mulher e mãe, que à frente do seu tempo, construiu um legado que permanece”, lembrou Amad.
Para sua gente, resgatar e preservar a vida da revolucionária de Anita serve como fonte de força para todas as pessoas, principalmente para as mulheres, e em especial as ‘Guardiãs de Anita’, grupo que se dedica em homenagear e levar os ensinamentos da guerreira para toda sociedade.
Infância e juventude
O território de Laguna no século XIX era extenso, vinha dos limites do Rio Grande do Sul até Florianópolis passando por Lages. As famílias viviam da sua produção na agricultura, ou prestadores de serviço nas vilas.
Nas margens da lagoa Santo Antônio, a Vila de Laguna, era movimentada por seu porto, responsável em abastecer outras vilas da região.
Vai e vem de pessoas para comprar produtos, fazer negócios, abastecer os barcos, passear pelas ruas de pedras era a rotina.
Nesta época, entre as meninas correndo na rua, junto com suas mães, amigas ou sozinha estava a pequena Anna Maria de Jesus Ribeiro. Caçula de uma família humilde, desde pequena uma personalidade forte e decidida. Anna nasceu no dia 30 de agosto de 1821. Filha de Bento Ribeiro da Silva e Maria Antônia de Jesus Antunes.
Sua família veio morar na vila, o pai Bento Ribeiro da Silva e mãe Maria Antônia de Jesus Antunes e os filhos, para melhor qualidade de vida e trazer a filha mais nova para longe de confusões no interior.
Uma pequena casa no centro era o refúgio da família.
Com o temor dos comentários, a mãe arranjou-lhe um casamento com o sapateiro Manuel Duarte de Aguiar. Foi obrigada a casar-se aos catorze anos, com uma pessoa com quem não tinha a menor afinidade.
Era o ano de 1835, o prédio onde vestiu-se para o casamento, fica ao lado da igreja Santo Antônio, transformada num espaço histórico, a Casa de Anita.
Quatro anos depois, em 1839, Manuel se alistou na Guarda Nacional do Império e deixou Laguna e Anna. O que acontece com ele é desconhecido.
Foi o porto de Laguna que em 1839 transformou a pacata vila em cenário revolucionário. A República Rio Grandense fundada pelos farroupilhas precisava prosperar e, para isso, necessitava chegar até o mar. Os imperialistas controlavam os portos e rios do estado vizinho.
Giuseppe Garibaldi, marinheiro, republicano e socialista, fugiu de Gênova em 1834, condenado à morte por participar de um motim em Piemonte, noroeste da Itália. Viera para a América do Sul seguindo milhares de imigrantes italianos. No Rio de Janeiro, encontrou exilados italianos, aliados dos republicanos uruguaios liderados por José Rivera (1790-1854), que apoiavam a revolta republicana dos farrapos gaúchos.
Conseguiu uma carta de corsário da República de Piratini, recém-proclamada pelos rebeldes em 1836, no Rio Grande do Sul. Atacou navios do Império do Brasil. Em 1837, Garibaldi zarpou do Rio de Janeiro para Montevidéu, num barco de pesca, com nove italianos, atacando navios brasileiros ao longo da costa. Do Uruguai rumou para Laguna, para continuar a luta, antes passando pelo Rio Grande do Sul.
Em Laguna, Anna passa a frequentar a casa de uma família na Barra, nas margens da lagoa Santo Antônio, seu tio era um farroupilha. No livro de Memórias, o italiano descreveu: “Um homem que tinha conhecido convidou-me a tomar café em sua casa. Entramos e a primeira pessoa que me apareceu era Anita. A mãe dos meus filhos! A companheira da minha vida, nos bons e nos maus momentos! A mulher cuja coragem tantas vezes ambiciono!”
O italiano apelidou Anna, de Anita, diminutivo do nome feminino na língua italiana.
Era 20 de julho de 1839 Garibaldi, 32 anos e Anitta, 18 anos, até novembro do ano de 1839 vivem um grande amor na vila de Laguna, tomada pelo exército farroupilha. Sempre em alerta devido à guerra com os imperialistas.
Batismo de fogo
A primeira batalha da guerreira, um batismo de fogo, onde Anita mostrou sua coragem e força ocorreu em 4 de novembro de 1839, na cidade de Imbituba.
No Mirante da Praia do Porto, um monumento Batalha Naval de Imbituba, foi erguido para lembrar a data.
No auge da Revolução Farroupilha, vindo de uma batalha próxima à Ilha de Santa Catarina em direção à Laguna, o vento tornou impraticável o acesso à Barra de Laguna. Por segurança, Garibaldi decidiu atracar as embarcações Rio Pardo e Seival na enseada de Imbituba, hoje Praia do Vila.
Ao amanhecer de 4 de novembro, os três maiores navios da armada imperial, Bela Americana, Patagônia e Andorinha chegaram em Imbituba e imediatamente abriram fogo.
De acordo com registros das Memórias de Garibaldi, Anita postou-se com um fuzil na primeira linha dos atiradores.
Horas depois, Giuseppe ordenou que descesse ao porão e ela, desta vez, obedeceu, mas dizendo que iria para buscar os covardes que estavam escondidos.
Já era fim de tarde e os imperialistas recuaram, dando a vitória da batalha aos republicanos. Durante a trégua os mortos foram enterrados, Anita socorreu os feridos e foram para Laguna por Terra.
No dia 15 de novembro, os soldados do Império surpreenderam os revolucionários e tomaram a vila açoriana.
Anita decidiu ir embora junto com o seu companheiro.
Guerreira
A primeira batalha, segundo relatos do biógrafo Wolfgang Rau (1975), ocorreu no litoral catarinense de Imbituba. No navio com soldados e Garibaldi, mandada para o porão para se proteger, volta com três homens que estavam escondidos e não volta antes de ajudá-los na batalha. Ela mesma fez a pontaria do canhão. A brava cruzou a zona de combate doze vezes, num bote, carregando munição e feridos.
O casal decidi seguir a coluna de Teixeira Nunes, em direção à Lages. O farroupilha participou da República Juliana onde conheceu o casal.
Em janeiro de 1840, os farroupilhas são surpreendidos em Curitibanos, nas proximidades do rio Marombas. Anita é presa e levada ao acampamento dos imperiais. Com permissão do coronel do Império Alburquerque ela procura o corpo do companheiro entre os mortos no campo de batalha. Sem encontrá-lo, com a convicção da sua sobrevivência, foge para seguir a busca.
Juntos, voltam para o Rio Grande do Sul, na cidade de Mostardas, Anita tem o seu primeiro filho, Menotti, em setembro de 1840. Mais uma vez, o casal precisa fugir quando o povoado é atacado por imperialistas. Conforme relato do italiano, Anita em recuperação do parto, sobe no cavalo e com o filho nos braços decide seguir Garibaldi.
Em meados de 1841, a família decide ir para Montevideo, no Uruguai, onde Garibaldi é convidado a lutar contra as tropas argentinas de Juan Manuel Rosas, que invadiu o Uruguai para controlar o comércio do Rio da Prata. Ele une exilados italianos e lutam contra os argentinos. Suas conquistas são conhecidas na Itália e tornam o nome dele popular na Europa, como o revolucionário da Legião Vermelha.
Em 26 de março de 1842, o casal oficializou a união.
O casal tem mais três filhos, Rosa, Ricciotti e Teresa.
No ano de 1848, Anita desembarca na Itália, com os filhos. Recebe como presente uma bandeira tricolor italiana. A campanha para a unificação da Itália estava crescendo. Depois de alguns dias na casa de amigos, Anita partiu para Nice, para morar com a sogra.
Em junho, chegou Giuseppe. Uma multidão esperava por ele e pelos sessenta camisas vermelhas vindos do Uruguai. Foram dias de alegria, até ele partir com a tropa para Gênova, para oferecê-la ao rei Carlos Alberto, do Piemonte – o mesmo que tentara derrubar em 1834 e que o condenara à morte.
Garibaldi engoliu as divergências com o rei porque os patriotas queriam a unificação da Itália, que o Piemonte liderava. Na época, a península era um aglomerado de reinos. Os principais eram os Estados Pontifícios (do papa); o Piemonte-Sardenha (dinastia de Savóia, italiana); Veneza, Lombardia e Tirol (dinastia Habsburgo, austríaca); Parma e o Reino das Duas Sicílias (dinastia Bourbon, espanhola).
Em novembro, a brasileira foi com ele até Florença. Só voltou para Nice, sob protesto, quando a Legião Italiana se preparava para cruzar os Montes Apeninos para enfrentar os austríacos. Em fevereiro de 1849, repetiu a façanha, seguindo o marido até Rieti, perto de Roma. Só voltou para casa porque adoeceu.
Em junho de 1849, Garibaldi comandou a defesa da República de Roma contra os franceses. Um dia, quando comia pão com queijo com os oficiais no quartel-general de Villa Spada, alguém bateu à porta. O comandante abriu, abraçou quem entrava e disse: “Senhores, temos mais um soldado!” Era Anita, grávida, que havia atravessado a região controlada pelos austríacos para se juntar a ele.
Mas os franceses saíram vitoriosos e Roma se rendeu. Garibaldi não aceitou a derrota e partiu em direção a Veneza. Anita foi junto, vestida como homem. Foi sua última viagem. As cavalgadas noturnas, a má alimentação e as noites ao relento minaram sua saúde. Ao chegar à República de São Marino, ardia de febre.
Em 1º de agosto, ao chegarem a Cesenatico, no litoral do Mar Adriático, tomaram barcos para alcançar mais rápido Veneza, mas foram perseguidos por uma esquadra austríaca. Desembarcaram numa praia deserta – ela, carregada. Dois dias depois chegaram a uma fazenda em Mandriole, perto de Ravena, onde um médico os esperava. Tarde demais. Na noite do dia 4 de agosto de 1849, ao ser finalmente colocada numa cama, Anita morreu, talvez de malária. Garibaldi, arrasado, não assistiu ao enterro. Saiu às pressas, para escapar dos austríacos. O corpo da brasileira foi enterrado no cemitério da Igreja de San Alberto, em Madriole. Em 1932, seus restos mortais ganharam um mausoléu em Roma.
Filhos de Anita e Garibaldi
Domenico Menotti Garibaldi (Mostardas, 19 de setembro de 1840 — Roma, 22 de agosto de 1903) foi um militar e político italiano, tendo sido um dos principais artífices da Unificação da Itália.
Filho mais velho de Giuseppe Garibaldi e Anita Garibaldi, foi o único dos filhos do casal que nasceu no rancho da Família Costa, localidade de São Simão, em Mostardas, na então República Rio-Grandense, pela qual seus pais lutavam. Os demais filhos, Rosa, Ricciotti e Teresa, nasceram no Uruguai nos anos seguintes.
O primeiro nome Domenico foi herdado do avô paterno e o segundo, Menotti, foi inspirado em Ciro Menotti, herói da Unificação Italiana e muito admirado por Giuseppe Garibaldi.
Quando Anita morreu na Itália em 1849, estava grávida do quinto filho.
Menotti e Ricciotti desenvolveram carreiras militares na Itália depois de terem se engajado nas lutas chefiadas pelo pai, sendo um dos que integraram a Expedição dos Mil. Menotti recebeu várias condecorações militares e foi também agricultor, maçon e político, sendo eleito deputado por Velletri entre 1876 e 1900.
Casou-se com Itália Bidischini dall’Oglio, com quem teve seis filhos: Anita, Rosita, Gemma, Giuseppina, Giuseppe e novamente Giuseppe, este último recebendo o nome do irmão mais velho falecido com dois anos de idade.
Morreu de malária aos 63 anos e foi enterrado no mausoléu da família Garibaldi, no município de Aprília.
Livro: Anita Garibaldi: o Perfil de uma Heroína Brasileira”, de 1975, autoria de Wolfgang Ludwig Rau