História

Laguna tem muita história para contar.

Começou com o povo pré-histórico, colonização açoriana e resultou num belo conjunto arquitetônico tombado pelo patrimônio nacional. Aliado a isso ainda é possível encontrar na cidade belas praias, um dos maiores sítios arqueológicos de sambaquis da América e diversas peculiaridades de um município que se transformou em roteiro histórico cultural.

A história começa há cerca de 6 mil anos com os primeiros registros de comunidades pré-históricas, sambaquis, pescadores-coletores, formações elevadas compostas de conchas, ossos, restos de fogueiras e artefatos, alguns com 35 metros de altura. Eram hábeis pescadores e mergulhadores de águas profundas que aqui viviam. Eles navegavam de canoa e chegavam a capturar golfinhos e arraias. Gerações de famílias viveram nos sambaquis, que em tupi guarani quer dizer amontoado de conchas. De acordo com levantamento do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) o município conta com 43 sítios arqueológicos, de artefatos do povo sambaqui e dos guaranis.

Estas famílias, de acordo com estudos, tiveram contato com os xoklengs e carijós vindos do oeste e absorveram a cultura de outras tribos. Já os índios se adaptaram a região devido à proximidade com a lagoa como fonte de alimentos.

Laguna nasceu em terras de disputa colonial. Durante os séculos XVII e XVIII, entre as metrópoles portuguesa e espanhola resultaram no Tratado de Tordesilhas (1494). Desse conflito entre metrópoles, uma extensa colônia passava a se formar.

De 1500 a 1700, mas de 100 mil portugueses se deslocaram para o Brasil-Colônia. Portugal temia invasões espanholas no Sul do Brasil, principalmente, em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, áreas estratégicas para se chegar ao Rio da Prata.

O litoral permitia o abastecimento de água e alimentos às embarcações. Na disputa, a necessidade de alargar as fronteiras da colônia Brasil. Contudo, somente no século XIX, foram dados os primeiros passos para uma ocupação mais efetiva do território, com políticas de povoamento para o Sul.

Foi no ano de 1676, em 29 de julho, data de fundação de Laguna, que o bandeirante vicentista Domingos de Brito Peixoto chegou em Laguna. Por ser devoto ao Santo Antônio, o bandeirante batizou o lugar como Santo Antônio dos Anjos de Laguna, sua primeira providencia foi a construção de uma capelinha, construída de pau a pique, mesmo local da atual. Poucos moradores fixaram residências na localidade neste período.

Segundo o historiador Antônio Carlos Marega, Laguna foi colonizada em duas etapas: a primeira, no século XVIII, meados de 1740, desbravou a região costeira da Lagoa Santo Antônio dos Anjos, região que vai do Bananal até a Madre, passando por Ribeirão Pequeno. Esses primeiros colonizadores, conhecidos como portugueses dos açores, procuraram habitar o local em busca da pesca e do solo produtivo.

Já na segunda etapa da colonização, na primeira metade do século XIX, com o crescimento do porto, os chamados Portugueses do Continente, trouxeram o desenvolvimento econômico para a cidade. “Foram eles que injetaram dinheiro no local, formando a cadeia genealógica (famílias tradicionais) e a cultura lagunense”, acrescenta o historiador. 

Foi o porto de Laguna que viria em 1839 transformar a pacata vila em cenário revolucionário. A República Rio Grandense fundada pelos farroupilhas precisa prosperar e para isso necessitava chegar até o mar. Os imperialistas controlavam os portos e rios do estado vizinho. Com apoio do italiano Giuseppe Garibaldi montaram uma manobra para surpreender os imperialistas através da lagoa Santo Antônio, entrando pela lagoa Garobapa do Sul e barra do Camacho e seguindo pelo rio Tubarão. 

Entre os anos de 1748 e 1756, vieram os imigrantes açorianos, incentivados pela Coroa Portuguesa com a intenção de impulsionar as vilas litorâneas do sul do Brasil com aumento populacional. Isto provoca uma grande modificação nos usos e costumes da Vila, maior desenvolvimento da agricultura e dos moinhos de farinha de mandioca.

Os açorianos ao chegarem adaptaram-se a nova vida. Modificaram alguns de seus hábitos, entre eles os alimentares. Substituíram a farinha de trigo, base da alimentação, pela farinha de mandioca e a carne pelo peixe. O peixe era salgado para consumo ou exportação. Até o início do século XIX a economia continuou sendo de subsistência. existência do porto como fator preponderante ao desenvolvimento de Laguna.

A vila foi elevada à condição de cidade, com denominação de Laguna, por Lei Provincial n.º 239, de 15-04-1847.

Imigrantes europeus

Neste tempo é registrado a vinda dos imigrantes europeus (italianos e alemães). Os imigrantes chegavam pelo porto de Laguna, ficavam na beira da praia, nos trapiches, esperando embarcações e seguiam para o interior. No começo era pelas lagoas e rios e mais tarde através da estrada de ferro Dona Tereza Cristina (iniciada sua construção em 1880 e aberta ao tráfego em 1884).
Com o desenvolvimento das colônias (Azambuja, Urussanga, Grão-Pará, Princesa Isabel e Braço do Norte) os produtos por elas produzidos eram trazidos de trem e escoados através do porto de Laguna.

Este fato juntamente com a exploração do carvão, fez com que, na segunda metade do século XIX, Laguna assumisse a 4ª posição no estado quanto a movimentação portuária.
O comércio de representações aliado as indústrias da região enriquece ainda mais as companhias de navegação, lucrando também no transporte. Os comerciantes desfrutaram
de uma boa situação econômica possibilitando melhores condições de vida a toda população.

Este período constituiu a época áurea de Laguna. Algumas construções do Centro Histórico testemunham ainda hoje a riqueza vivida nestes anos. Parte da geração desta
época está registrada, hoje, nas ruas de Laguna, através dos nomes de ruas, como: Conselheiro Jerônimo Coelho, Raulino Horn, Oswaldo Cabral, Tenente Bessa, entre outros.
A implantação das edificações nos lotes urbanos foi aos poucos se modificando.

As casas térreas e os sobrados passaram a conviver com novas edificações, agora no estilo eclético.

A princípio eram os porões altos ainda no alinhamento dos lotes. Mais tarde são os recuos laterais, possibilitando os acessos através de escadas junto aos jardins, cada vez
maiores e mais imponentes.

O espaço urbano conseqüentemente alterou-se significativamente e passou a incorporar vazios entre as edificações, que antes formavam uma superfície contínua com as fachadas das casas. As construções ecléticas foram locadas principalmente na parte mais central do Centro Histórico. A maioria construída para uso residencial.

A cidade figura edificações carregadas de decorações, vidros desenhados e ferros importados. O telhado arrematado com platibandas ornamentais, balaustradas, e calha para
escoar a água das chuvas. O peitoril e a bandeira desaparecem sendo substituído por massa com motivos decorativos. As paredes passam a ser construídas de tijolos e cal, dando maior
precisão e diminuindo a espessura. Estes novos elementos marcaram fortemente a nova arquitetura e mudaram a paisagem urbana.

Desenvolvimento urbano e intelectual

Portanto, foi na virada do século, pelo enriquecimento natural da população, que Laguna testemunhou o desenvolvimento urbano e intelectual mais significativo desde a sua fundação. Surgiram nesta época o teatro Sete de Setembro (1858), a tipografia do primeiro jornal (1878), o hospital (1879), o primeiro hotel na Rua da Praia, o Cine Central, a iluminação
pública a petróleo (1891) e o antigo Mercado Público (1893). Este último, incendiado na primeira metade do século XX.

Entre 1914 e 1915 organizam o Jardim Calheiros da Graça com chafariz, palmeiras e iluminação. Inaugurado em 25 de abril de 1915. Inaugura-se a Biblioteca Pública em 1925, e
também o prédio do Banco Nacional do Comércio.

Entre os anos de 1930 a 1950 aconteceram grandes transformações. Surge o primeiro automóvel, ônibus urbano e ruas calçadas.

No período de 1930 a 1940 edificam-se as sedes do Clube Blondin (hoje Casa do Patrimônio do Iphan), e a nova sede do Clube do Congresso Lagunense.
Retratos da intensa vida social que o lagunense desfrutava.

Mais tarde, a Rua da Praia (atual Gustavo Richard) perde o movimento de embarque e desembarque, pois o porto foi transferido para o atual local, no bairro Mar Grosso. 
A estação de trem para o final do Campo de Fora.

Após a 2ª Guerra Mundial com a organização do porto de Imbituba, melhor localizado para receber navios maiores e de maior cabotagem, Laguna perde competitividade. A
crise não foi maior devido a concentração de serviços comerciais, financeiros e públicos que Imbituba ainda não possuía.

No final da década de 50, Laguna decaiu economicamente pela diminuição da atividade portuária, pelo enfraquecimento do pólo comercial, e fracasso na tentativa de industrialização.
Na década de 60, a construção civil praticamente paralisou. Outro fator determinante para o declínio foi o transporte rodoviário. A construção da BR-101 e abertura ao tráfego
da ponte rodoviária da Cabeçuda, deslocou o pólo econômico da região sul de Laguna, para outros municípios, como por exemplo, Tubarão.

Permaneceram aqui somente produtos pesqueiros, pequenas indústrias, como confecções e o processamento da fécula de mandioca e arroz.

Mas, na década de 70, a mesma abertura da BR-101 trouxe a possibilidade de uma nova atividade econômica. A exploração turística do Balneário do Mar Grosso, bairro oposto
ao Centro Histórico, impôs uma implantação urbana diferenciada dos outros bairros da cidade que se expandiram espontaneamente.

O crescimento do número de turistas de veraneio estimulou o crescimento imobiliário na praia e, como conseqüência, o centro histórico da cidade. 

Em 1985, após estudos baseados no levantamento o Iphan, propôs o tombamento de uma fração da cidade. Esta considerada, por suas características e atributos, o centro fundamental para a manutenção da identidade e da paisagem urbana tradicional do sítio histórico da cidade.

Datas marcantes no contexto histórico do município:
1494 – o Rei de Portugal Dom João II assina o Tratado de Tordesilhas. Esse tratado estabelecia um meridiano imaginário, situado a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, nas costas da África. As terras a oeste desse meridiano pertenceriam à Espanha, e as terras a leste seriam de Portugal. A linha imaginária passava por Laguna. O monumento do Tratado está localizado ao lado da rodoviária no Centro Histórico.

1676 – O bandeirantes Domingos de Brito Peixoto chega na Vila de Laguna, uma solicitação do rei de Portugal, para expandir a fronteira do Tratado de Tordesilhas. A vila se transformou em ponto de partida de expedições. Com a chegada dos bandeirantes, a Vila, de origem indígena, foi organizada e povoada. 

1839 – O revolucionário italiano Garibaldi, David Canabarro, Teixeira Nunes e soldados farroupilhas conquistam a Vila, declarando a República Catarinense.
Uma tentativa de separar o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, do comando do império. 

1839 no dia 29 de julho – A Câmara de Vereadores de Laguna, presidida por Vicente Francisco de Oliveira, proclama a independência, chamando de República Catarinense ou República Juliana.

1839 no dia 4 de novembro – Batalha naval em Imbituba entre farroupilhas e imperialistas. Episódio que teve a participação de Anita, já apaixonada pelo revolucionário Garibaldi.

1839 no dia 9 de novembro – Garibaldi pressionado por Canabarro ataca a cidade vizinha de Imaruí, ficando o episódio conhecido como o Saque de Imaruí, onde comida e objetos pessoas foram levados pelos soldados farroupilhas, que estavam passando frio e fome.

1839 no dia 15 de novembro – Batalha naval, entre imperialistas e republicanos, na Barra de Laguna, os republicanos são derrotados e acabam deixando a vila.