Em 1932, o prefeito José Fernandes Martins solicitou ao historiador catarinense Afonso d’Escragnolle Taunay que elaborasse o símbolo das armas da cidade de Laguna que, no século XVIII, foi o centro da expansão colonizadora, em direção ao oeste e sul do país.
Profundo conhecedor da história lagunense e também dedicado estudioso da heráldica (ciência dos brasões), Taunay, ao conceber o estudo do brasão, buscou valorizar o glorioso passado da cidade e ainda, conseguiu resgatar e fortalecer a memória e a religiosidade do município sem deixar de evidenciar os seus bravos conquistadores, imortalizados pelos significativos símbolos heráldicos do brasão.
Os estudos e conceitos idealizados pelo historiador Taunay foram materializados e eternizados na pintura em aquarela do artista plástico Ivan Wosth Rodrigues, obra que hoje se encontra no museu Anita Garibaldi, em Laguna.
Dos pioneiros que iniciaram a construção da história da cidade, alguns lagunenses ilustres se destacaram e, entre eles, Domingos de Brito Peixoto e seus filhos: Sebastião de Brito Guerra, Francisco de Brito Peixoto, seu genro, João de Magalhães; e ainda, Rafael Pinto Bandeira. Estes grandes personagens exerceram importante influência no processo de formação da cultura e do desenvolvimento de Laguna e hoje, são personagens históricos referenciais do município, que traz em sua existência, mais de três séculos de história.
O Brasão – No conjunto de elementos que compõem o brasão, destaca-se ao centro o escudo português com base inferior circular, dividido em três partes. Na parte superior, está sobreposta a ‘coroa mural primitiva das municipalidades’ que, na heráldica, simboliza a cidade.
A primeira faixa azul no terço superior, é composta por dois anjos que pairam acima das crespas águas cor de prata (da laguna). Estes anjos, ladeam e sustentam o medalhão religioso com a imagem de Santo Antônio, representando a ‘arma falante’, da heráldica, símbolo que representa a história da cidade, em referência a Santo Antônio dos Anjos da Laguna.
Outros símbolos compõem o brasão em homenagem aos grandes desbravadores bandeirantes vicentistas e às principais famílias que bravamente iniciaram a póvoa lagunense.
Na parte central do brasão, em campo vermelho, destacam-se três símbolos usados pela antiga heráldica portuguesa, em referência aos nomes das famílias Brito, Magalhães e Bandeira, representadas, respectivamente, pela torre dos Britos (à esquerda); a cruz florenciada dos Magalhães (ao centro) e a bandeira de ouro com o leão azul dos Bandeiras, evocando a casa dos Bandeiras (à direita), de onde provieram os Pinto Bandeira, notáveis lagunenses que se imortalizaram na luta para assegurar o domínio dos campos do Rio Grande do Sul.
No terço inferior do brasão, em fundo azul, está inserido ao centro o escudo adotado pelos republicanos, que traz em seu interior a data 22 de julho de 1839, quando estabeleceu-se a República Juliana (República Catarinense). Nas bordas desse escudo, a divisa “Liberdade, Igualdade e Humanidade”, representando o brado com os ideais dos Farrapos.
O escudo central é ladeado (protegido, em heráldica) por duas figuras ostensivas armadas, uma delas à direita do brasão, representando um bandeirante Paulista, fardado com seu clássico ‘gibão de armas’ e a outra, representando um soldado do glorioso regimento catarinense, que foi imortalizado na memória histórica como sendo os ‘Barrigas-verdes’.
Na base do brasão em azul, um ‘listel’ (uma faixa), com a significativa divisa: “AD MERIDIEM BRASILIAN DVXI” (“Para o sul levei o Brasil”), em síntese simbólica à importante e decisiva atuação dos bravos lagunenses, não somente nos conflitos de emancipação da região sul, como também, no histórico processo de expansão nacional em direção ao rio da Prata.
Fontes:
(1) Antônio Carlos Marega (historiador e pesquisador lagunense);
(2) Laguna: memória histórica / Ruben Ulysséa – Brasília: Letra Ativa, 2004.