Pesca

Com uma economia voltada principalmente para a pesca, Laguna se destaca pela forte produção de camarão e siri nas lagoas e de pescados na costa do Atlântico Sul.

Banhada pelas lagoas Santo Antônio dos Anjos, Imaruí e Mirim, a cidade atrai turistas à procura do famoso “Camarão Laguna” . Reconhecido como um dos melhores do Brasil, o crustáceo é capturado através da pesca artesanal, nos meses de dezembro a junho, do entardecer ao amanhecer.

A atividade utiliza como arte de pesca para a captura do camarão a rede conhecida como “aviãozinho”, propícia à baixa profundidade das lagoas, inferior a dois metros. A baixa profundidade, por outro lado, favorece o desenvolvimento do camarão.

A técnica utiliza redes com argolas e luz à bateria, para atrair o crustáceo. À noite, as lagoas são cobertas de luzes, semelhante a uma cidade iluminada, proporcionando um espetáculo aos visitantes.

No Canal de Laranjeiras, na lagoa Santo Antônio, com cinco metros de profundidade a captura deve ser feita com tarrafas e somente por pescadores artesanais profissionais.

De 15 de julho a 15 de novembro, período de defeso do camarão e reprodução do crustáceo, a pesca é proibida no complexo lagunar.

Espécies que habitam as lagoas da região: Camarão Rosa (Penaeus paulensis) e Camarão Branco (Penaeus Schimitti).

 

 Dados oficias sobre a pesca no município:

  A cidade de Laguna localiza-se no sul do Estado de Santa Catarina, situada na Bacia Hidrográfica do Rio Tubarão e Complexo Lagunar Sul, o qual abrange as lagoas Santo Antônio dos Anjos, Mirim e Imaruí. Atualmente, encontram-se registrados na Colônia e no Sindicato dos pescadores do município de Laguna, aproximadamente 4.100 pescadores artesanais em atividade.

O pescador artesanal é aquele que com meios de produção próprios, exerce sua atividade de forma autônoma, individualmente ou em regime de economia familiar, ou com eventual auxílio de parceiros, sem vínculo empregatício (CLAUZET et al., 2005) e que possuem a carteirinha do Registro Geral de Pesca. Em Laguna, segundo os dados obtidos pelo PMAP – Programa de Monitoramento da Atividade Pesqueira no Estado de Santa Catarina, no período de janeiro a junho de 2018 a pesca artesanal no município apresentou uma produção de 4.606,5 toneladas.

Os meses de maio e junho foram os mais produtivos, acumulando 46% da produção municipal registrada nesse período. A Figura 01, a seguir, apresenta resultados da produção artesanal, em percentual mensal, em Laguna/SC, de janeiro a junho de 2018. Figura 01 – Percentual mensal da produção artesanal em Laguna, de janeiro a junho de 2018. Fonte: PMAP (2018). As principais categorias de pescado capturadas foram tainha, siri e camarões que, juntas, somaram 80,3% do total registrado no município. A maior parte das capturas foi obtida com o emprego de aviãozinho, redes de emalhe e emalhe anilhado (Figura 3). Principais categorias de pescado na produção artesanal de Laguna, de janeiro a junho de 2018. Fonte: PMAP (2018).

Contribuição dos aparelhos de pesca na produção artesanal de Laguna, de janeiro a junho de 2018. Fonte: PMAP (2018). Toda a história de Laguna tem relação com a água da lagoa ou com a água do mar. Portanto, preservar a forma tradicional da construção de algumas estruturas náuticas, citase as garagens náuticas, comumente chamadas de sarilhos, não é uma ação isolada, é preservar um conjunto de patrimônios imateriais e culturais de uma sociedade. Ainda, relembrar as origens e a história é importante para o pertencimento da população e a reafirmação da identidade local (MOREIRA e ANGELI, 2019).

 

Artefatos e estruturas utilizadas na pesca artesanal:

Conforme o dicionário, sarilho significa “Máquina manual de madeira e troncos para elevar objetos” ou ainda “cilindro horizontal móvel, acionado por manivela ou motor, em que se enrolam cordas ou cabos de aço, para levantar grandes pesos”, mas, na vida real traz consigo muito mais significado e peso na paisagem da cidade e na vida de povos ribeirinhos e pescadores artesanais (MOREIRA e ANGELI, 2019). Sarilho é um espaço que reporta o local em que os pescadores costumam guardar e proteger suas embarcações nos momentos de descanso.

O sarilho é uma estrutura feita de madeira, dotada de um cilindro horizontal móvel acionado por manivela ou motor, que mantém as embarcações suspensas acima da água quando fora de uso. Para os pescadores artesanais os sarilhos são uma extensão da sua garagem de casa ou até parte da casa. Nele são armazenadas as embarcações utilizadas para a pesca artesanal e muitos se transformam em pequenos ranchos de pesca, servindo dessa maneira a duas funções primordiais a esse ofício, a pesca propriamente dita e a limpeza do pescado, realizada após a atividade (MOREIRA e ANGELI, 2019). Os sarilhos diferenciam-se principalmente pelo tamanho, pelo tipo de material e cobertura, além dos anexos que apresentam, como a adição de ranchos de pesca, que são estruturas fechadas. Essas estruturas náuticas (trapiches e sarilhos), em sua maioria, são edificações e equipamentos de pesca construídos pelos próprios pescadores. É o local utilizado por todos os entrevistados para içar a embarcação. Nesses locais, realizam-se outras atividades relacionadas à pesca, como arrumar e guardar petrechos, limpar e comercializar os pescados Essas construções e objetos dizem respeito às práticas e domínios da vida social desses pescadores e expressam sua identidade.

Castells e Lino (2015) afirmam que os pescadores artesanais de Laguna fazem e fizeram sua história, que dão sentido à cidade, mas não ocupam precisamente um lugar de destaque no campo do patrimônio cultural. Os pescadores artesanais e os que não são profissionais da pesca baseiam suas práticas de construção de sarilhos em conhecimentos empíricos, adquirido e acumulado através das gerações, sendo que a intuição, a percepção e a vivência fazem parte de seu conhecimento tradicional que consolida a prática da construção dessas estruturas Segundo Moreira e Angeli (2019), o conhecimento passado de pai para filho é o primeiro registro do saber fazer de uma cultura tradicional, mas não deve ser o único, é preciso registrar e salvaguardar o que faz parte de nossa cultura. São necessárias ações que buscam a salvaguarda, a preservação e sua recuperação, no nosso caso, o da construção naval artesanal, para, desta maneira, alcançar a perpetuação da memória, de técnicas e saberes que, se não tiverem a devida atenção e cuidados o mais rápido possível, desaparecerão por completo.

Observa-se que existem muitas estruturas náuticas em estado de abandono que necessitam de intervenção, seja para retirada ou reconstrução. Entende-se que através da requalificação dessas estruturas em estado de arruinamento, seja possível potencializar esses espaços que possuem valores agregados, transformando essas áreas degradadas em locais com atrativos socioculturais e econômicos, criando um elo entre o passado e o presente, valorizando a cultura local. Segundo Moreira e Angeli (2019), a região Lagunar apresenta três tipos de embarcações características, a primeira é denominada Canoa de Convés. Ela foi a responsável por grande parte da integração comercial e social de comunidades vizinhas com a cidade de Laguna, até metade do século XX.

A Canoa de Convés foi muito utilizada por ser, na época, o meio de transporte economicamente mais viável e rápido de interação entre os municípios. Alguns exemplares resistiram até a década de 1970, porém desapareceram por completo, nas décadas posteriores. Cita-se alguns dos fatos que contribuíram para o desaparecimento total desse tipo de embarcação, entre eles a construção da BR-101 sobre a Lagoa Santo Antônio dos Anjos na localidade de Cabeçudas, a não continuidade dos jovens no ofício, o aparecimento de novos tipos de embarcação de construção mais fácil e o desaparecimento da madeira nativa, peroba e cedro, principalmente (PEREIRA JÚNIOR, 2005). Uma embarcação de relevância histórica para o complexo Lagunar é a Baleeira Açoriana. Como o nome já diz, é destinada à pesca da baleia e tem como característica a leveza e a ótima navegabilidade. Seu comprimento varia de 7 a 11 metros (MUSEU NACIONAL DO MAR, 2014). Em Laguna, essa embarcação é muito utilizada no Farol de Santa Marta. Ainda hoje é possível encontrar alguns exemplares de grande porte em atividade, porém sem a utilização de mastros e velas, empregando como propulsão única o motor a diesel (MOREIRA e ANGELI, 2019).

Outra embarcação também muito comum no complexo lagunar é a Canoa Bordada que é utilizada para realizar a pesca da tainha. Sua origem advém da junção da cultura dos colonizadores açorianos e dos indígenas que aqui já habitavam. É assim chamada porque nas bordas dos troncos escavados adicionam-se tábuas que aumentam a borda livre, dando maior segurança no momento de romper a arrebentação. As bordas são colocadas em um ângulo aberto para fora da embarcação, servindo como escudo e protegendo o interior do barco das ondas. Seu tamanho é variado, mas gira em torno de 6 a 10 metros de comprimento, podendo ocorrer exemplares um pouco maiores. Estas canoas são pintadas com cores vivas e consideradas embarcações plasticamente muito expressivas. Porém, a canoa bordada deixou de ser construída por três motivos, o primeiro e principal é o declínio da pesca artesanal. O segundo, porque a madeira está sendo substituída pela fibra de vidro. E por fim, a proibição dos órgãos ambientais em relação à extração da madeira necessária à sua confecção. Com isso, ocorre o sério risco de se perder o “saber fazer” destas embarcações. (MOREIRA e ANGELI, 2019).

Ainda sobre as embarcações tradicionais do município, tem-se o Bote do Sul ou Bote de fundo chato que começaram a ser construídas em Laguna, por influência de pescadores que se dirigiam à Lagoa dos patos para pescar camarão. Alguns adquiriram exemplares dessas embarcações e trouxeram para Laguna, onde começaram a ser replicadas pelos mestres locais. Trata-se de uma embarcação de pequeno a médio porte, com comprimento variando entre 6 e 10m, todavia podem existir embarcações maiores. A quantidade de tripulantes em cada embarcação vai depender do tipo de pesca e do tempo de permanência no mar, porque mesmo essas embarcações sendo de boca aberta, ou seja, sem convés, muitas vezes pescam em mar aberto, acontecendo de ficar mais de um dia inteiro pescando. São confeccionadas em madeira, com tábuas relativamente largas nas laterais, se comparadas com as de uma baleeira. O fundo do casco é quase chato, com uma longa quilha bem definida; o convés é aberto e sem cabine. Essas embarcações podem navegar de três formas, a remo, a motor e ainda, mas raramente, com uma vela de espicha (MOREIRA e ANGELI, 2019). Outro tipo de embarcação são as chamadas Bateiras, trata-se de uma embarcação de construção simples, com comprimento variável, entretanto ocorre entre 5 metros e no máximo metros, muito raramente ultrapassam esse comprimento. Possui um fundo chato com médio tosamento (curva do barco). Podem ser de dupla proa ou com painel de popa e uma quilha ao longo de todo o fundo, o número de cavernas varia de acordo com o comprimento e podem navegar de três formas, a remo, a motor e propulsão à vela, raramente. A boca e o pontal variam de construtor para construtor e da sua destinação. É uma embarcação utilizada por pescadores de menor poder aquisitivo e navegam exclusivamente em águas interiores (MOREIRA e ANGELI, 2019).

Os pescadores artesanais e aqueles que não são profissionais da pesca, mas que praticam a atividade pesqueira, utilizam variados petrechos para realizar suas atividades, tais como o aviãozinho, covo tarrafas, e emalhe, além de redes de espera e de arrasto, espinhéis, linhas de fundo, puçá e anzóis (SANTOS, 2002). Cada um destes petrechos corresponde a uma técnica de pescaria, a qual é utilizada para se capturar determinada espécie, como o camarão e o siri com o aviãozinho e o covo, respectivamente. Segundo Medeiros (2004), a sustentabilidade dos recursos pesqueiros depende do esforço de pesca, do tamanho da embarcação, retorno econômico, existência de políticas de subsídios e incentivos, utilização de métodos predatórios de pesca, degradação dos habitats e dos recursos hídricos e poluição do ambiente marinho.

Algumas atividades agrícolas, principalmente a rizicultura, podem contribuir com a poluição da água na Lagoa Santo Antônio dos Anjos, devido aos resíduos resultantes da aplicação de fertilizantes, agroquímicos e da erosão do solo, além da poluição causada pelos resíduos de esgotos que são lançados na lagoa sem tratamento. Portanto, a pesca não deve ser entendida como um simples procedimento de extração de recursos, pois há inúmeras relações sociais, ambientais e culturais envolvidas (BAPTISTA, 2007).