Poluição sonora no habitat dos Botos Pescadores é tema de palestra
Muitas pessoas conhecem os Botos Pescadores vendo eles saltando ou interagindo com os pescadores na região do Canal dos Molhes da Barra, em Laguna. O que muitos não sabem, não está a olho nu. Sons emitidos debaixo d ́água são pouco conhecidos, mas importante para entender o comportamento desses animais.
Esse foi o tema aprofundado nesta quinta-feira (18), durante a palestra “Poluição sonora da paisagem da pesca cooperativa com os botos”, pelo biólogo e especialista Arnaldo Russo, durante a programação da 21ª Semana dos Museus, que tem como tema deste ano – “Museus Sustentabilidade e Bem-Estar”.
O encontro trouxe dados sobre uma pesquisa realizada de 2017 a 2019 pelos voluntários do Instituto Boto Flipper, onde realizou estudos subaquáticos sonoros da pesca cooperativa com os botos.
“Os botos e a pesca cooperativa emitem sons específicos, além das outras inúmeras espécies que vivem no canal e em outras partes da Lagoa Santo Antônio. Mas além desses sons, existe uma grande poluição sonora compartilhada pelos botos, vinda de todo o entorno do seu habitat”, explicou o pesquisador.
A poluição sonora, segundo a pesquisa, que não conseguiu ter continuidade após a pandemia, mostra uma variedade de conflitos sonoros que podem afetar o comportamento dos botos pescadores.
“Quando você fecha os olhos e tenta se imaginar como um boto debaixo d´agua, sabe que além do seu próprio som, terá também outros barulhos vindos de diferentes tipos de embarcações que transitam simultaneamente no local, tubulações de esgoto, porto pesqueiro, veículos, entre tantos outros sons que vibram dentro da água. Imagina tentar se comunicar em meio a tudo isso?”, questiona Arnaldo.
Estudar essa paisagem sonora, segundo o biólogo, é uma forma de registrar a história e cultura local. Os Botos de Laguna, um grupo pequeno de apenas 55 animais que habitam localmente a região lagunar, emitem sons específicos, que precisam ser conhecidos e estudados.
Botos Pescadores – “Tursiops truncatus gephyreus”
Laguna possui atualmente uma população residente de 55 botos. Com características específicas, o grupo de cetáceos que vive na cidade já recebeu uma nova classificação científica, o Tursiops truncatus gephyreus.
Os Botos Pescadores são conhecidos pela cooperação com o pescador na busca por alimento. Mas, segundo o biólogo Arnaldo Russo, nem todos os botos locais podem ser classificados como pescadores. Alguns não interagem com a pesca.
Essa nova classificação que identifica o Boto de Laguna está associada a pesquisas que comprovam que os grupos daqui não se misturam com outros golfinhos de fora. “Houve ao longo do tempo um agrupamento da mesma carga genética pelo endocruzamento entre os próprios animais”, explica Arnaldo.
De acordo com a Universidade Federal do Rio Grande o Sul (UFRGS) o Tursiops truncatus gephyreus é endêmico do oceano Atlântico Sul Ocidental. Está presente em águas costeiras próximas à zona de arrebentação e em baías, estuários e lagoas costeiras no Sul do Brasil (PR, SC e RS), no Uruguai e em parte da Argentina. Em toda distribuição estima-se que existam 600 indivíduos (sendo 360 maduros).
A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) classifica a espécie com grau de ameaça vulnerável e em perigo.
De acordo com a apresentação realizada pelo biólogo, os principais riscos enfrentados pelos Botos Pescadores são a perda de habitat, poluição das águas, poluição sonora, atropelamento por embarcações e pesca predatória.
Saiba mais aqui: https://www.ufrgs.br/faunadigitalrs/boto-de-lahille-tursiops-gephyreus/
Pesquisa sobre assobios assinatura dos botos:
De acordo com um trabalho de conclusão do curso de graduação em Ciências Biológicas da UFSC, a comunicação é uma das características mais marcantes dos cetáceos. Dentro desse grupo, os golfinhos possuem dois tipos de emissões sonoras que os permitem interagir socialmente e com o ambiente à sua volta, os cliques e os assobios. Esses últimos apresentam uma categoria específica: os assobios assinatura, caracterizados como sons de perfil único de cada indivíduo, podendo ser utilizados para sua identificação. Os assobios assinatura não são os mais utilizados por esses animais, porém durante comportamentos de forrageio e socialização se tem relatado que a emissão desses sons tendem a aumentar.
Assim, foram analisados áudios de Tursiops truncatus gephyreus gravados em seis diferentes locais no estuário localizado em Laguna, Santa Catarina, Brasil, durante três dias em maio de 2020.
Saiba mais sobre a pesquisa no link: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/242904